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Campos do Jordão – Uma pedalada inesquecível na Serra da Mantiqueira da Chuva de Prata até o Horto

Era para ser um dia qualquer, uma quinta-feira fria e chuvosa na montanha na qual eu estaria sentado em frente a janela ouvindo o vento e os passarinhos que teimam em cantar sob quaisquer circunstâncias. Mas não foi bem assim, aquele dia reservava algo marcante para minha memória. Mas antes de falar sobre isso, aqui vai uma pequena introdução.

Em 2020, diante da grande pandemia, decidi que empenharia-me em mudar hábitos e retomar sonhos, entre os quais o de ter de volta uma bicicleta para chamar de minha e pedalar sempre que possível, onde quer eu estivesse. Esse intento começou a ficar mais forte em maio de 2020 quando percebi que estávamos diante de uma ocorrência sem precedentes e que isso limitaria severamente minha capacidade de me exercitar ou de simplesmente me deslocar em distâncias consideráveis por um bom tempo, mas como não tinha uma magrela sob o meu teto há alguns anos, tive de gastar um tempo com pesquisas e consultas aos amigos ciclistas antes de tomar a decisão de finalmente adquirir uma. Não foi tão fácil quanto eu imaginava, mas foi certamente um período muito intenso e animado no qual também tive a oportunidade de pedalar em outras bicis antes de tomar minha decisão e de conhecer inúmeros blogs e canais de vídeo cujo tema principal era a temática da bicicleta e da mobilidade ativa.

Outro fato que marcou esse período foi nosso deslocamento residencial: eu, minha companheira e nossa filha de dois anos saímos da cidade de São Paulo e nos refugiamos em Campos do Jordão, cidade onde os avós da pequena possuem uma casa de campo. Estava difícil continuar vivendo cotidianamente em São Paulo sem poder ao menos respirar um pouco de ar com tranquilidade, então decidimos aproveitar a chance e fazer uma mudança temporária para o campo onde poderíamos ter mais qualidade de vida e oferecer a nossa filha um lugar mais saudável em momentos atuais.

Então, já em Campos do Jordão e com algumas conclusões encontradas, finalmente recebi uma bicicleta para chamar de minha. Ela veio rápido e encontrou-me muito feliz e ansioso com sua chegada. Nada fora do comum, busquei uma bici leve, com marchas para enfrentar algumas subidas e com selim confortável para o caso de precisar passar mais tempo pedalando.

Foi então que, numa manhã chuvosa de outubro (09.10.2020), dia seguinte do recebimento da nova bicicleta, com a primavera em curso trazendo pouco a pouco mais calor, vento e umidade aos nossos dias, decidi sair para pedalar um pouco e testar a bendita. Não via a hora de colocar meus pés em seus pedais e fazer o pedivela girar. O plano era fazer uma pedalada inaugural simples, sem grandes aventuras ou extravagâncias.

Saí da região de Colinas Capivari no meio da manhã e decidi ir em direção a Cachoeira Véu da Noiva. Há um pequeno trecho de uns 3km de estradas de terra por ali e seria a chance perfeita para verificar se aquela graciosa honraria bem a categoria de Mountain Bike. De todo modo, se eu tivesse algum problema, estaria perto de casa e poderia voltar caminhando sem problemas. Levei água, bananas como combustível para o corpo, vesti o capacete e sem demora comecei a avançar no caminho que pretendia percorrer.

O tempo naquele momento, embora nublado, não apresentava precipitações e eu seguia seco na direção de percorrer uns 4km ou 5km e voltar, mas surpreendentemente tudo começou a mudar. A cada giro eu me animava mais. A bicicleta era muito leve e eu conseguia pedalar com velocidade cada vez mais e mais. Cheguei ao final do trecho desejado em menos de 15 minutos e meu coração ainda batia forte e impressionado de ter chegado tão depressa, cada vez mais animado com aquela sensação de descobrir lugares novos de novos jeitos.

Continuei pedalando, fui em direção ao horto e decidi que iria pedalar mais uns 20 ou 30 minutos e depois voltar. Os 30 minutos passaram e nem percebi, continuei indo e indo. Uma hora depois eu já havia percorrido 15km e achei prudente começar a voltar.

Que dia, que momento! Acabei quebrando meus atuais recordes de distancia e velocidade na cidade e ainda tive o privilégio de uma vista sensacional na Serra da Mantiqueira. Pedalei ao total 31km, enfrentei o cenário mais adverso possível, o céu estava escuro, 16 graus, umidade alta, no meio do caminho houve chuva, muita chuva, pedras, lama, pista de terra e de asfalto, subidas e descidas e foi incrível.

Quando voltei, mal podia acreditar e quando paro para pensar, só consigo perceber que isso é só o começo! Que ano, que dia, que momento! Estou muito grato por isso, nunca uma simples pedalada foi tão significativa. A reinauguração de um ano tão simples e ao mesmo tempo tão caro e divertido para mim: pedalar. A vista foi incrível e mesmo passando por um trajeto um tanto desfavorável, sinto que não poderia ter sido melhor. Espero poder continuar, sozinho, mas também em companhia de minha filha que já tem se mostrado uma grande fã das incursões de bicicleta como eu.

2 comentários em “Campos do Jordão – Uma pedalada inesquecível na Serra da Mantiqueira da Chuva de Prata até o Horto”

  1. Que texto! Adorei!
    Dá até vontade de se arriscar nessa empreitada, pena que não tenho muita experiência e precisaria de mais treino no asfalto antes de aventurar por aí!

    1. hahahaha olha, confesso que estava um tanto quanto empolgado quando escrevi. Pudera: eu tinha acabado de voltar dessa pequena aventura sozinho. Espero poder continuar saindo por ai em descobertas cada vez mais instigantes. Recomendo muito, andar de bike vale muito a pena e é algo que depende só de você. Fato inédito: nessa pandemia o número de ciclistas aumentou muito, assim como aumentaram demais as vendas de bicicletas e afins. Espero que isso perdure!

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