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Desaparecida

M.M.Antes de dormir, no momento impreciso cuja tremulação se dá entre o consciente e o inconsciente, naquele estado meio devaneio meio ainda vigilante, sentia uma dor estranha, inexplicável. Era um momento incomum que nunca ouviu falar que os outros tinham, mas ela sabia o que era. Sabia sentindo sem muitas palavras para descrever. Mudavam as cores, mudavam os sons. De olhos fechados via flashes de bombas, de fumaças no céu, doía o pé, o peito apertava, cada dia de um jeito mas sempre doido, sempre confuso, sempre desconforto. Depois passava, vinha a preguiça, o calor confortável, a moleza, o sono. E dali pra diante só se lembrava de algo se fosse acordada, rompendo a barreira entre a loucura de qualquer coisa sem sentido que só os sonhos são capazes de produzir e sua mente pensando sobre sua mente.

Um dia estava nesse processo descoberta, com pouca roupa e com a janela aberta. O que em geral durava poucos segundos durou, provavelmente, mais de uma hora. Então, para que não passasse em branco, acordou e resolveu fazer a coisa mais ridícula que lhe parecesse sobre isso: sentou e escreveu tudo, em detalhes. Depois amassou o papel e jogou fora. Ninguém sabe dizer se passou ou não, até porque, em não sendo daqui, de partida se foi e nunca mais voltou, nem se ouvir falar dela.

Autora desaparecida.

1 comentário em “Desaparecida”

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